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Ação Publiciana: desvendando os detalhes na Doutrina Brasileira

No vasto Direito Brasileiro, a Ação Publiciana emerge como uma peça fundamental, amplamente explorada pela doutrina jurídica. Sob sua égide, busca-se tutelar o possuidor injustamente desapossado, conferindo-lhe um resguardo legal.

O que é uma ação publiciana?

A Ação Publiciana, oriunda do Direito Romano, consagra-se como um remédio jurídico eficaz. Assim, diante da injusta perda da posse, seu propósito é restaurar o status quo, possibilitando ao demandante reaver seu bem mediante aquisição judicial.

Ao contrário da posse direta, ela não se volta contra o possuidor de boa-fé, mas sim contra terceiros que, conscientes ou não, interferem no domínio alheio. Isto é, essa sutileza é elemento-chave na análise desta instituição jurídica.

Rodrigues, ao discutir a Ação Publiciana, destaca sua natureza subsidiária, afirmando que:

se revela como um instrumento hábil para resguardar a posse em casos de desapossamento injusto (Rodrigues, 2020, p. 87).

Essa visão robustece a compreensão da ação como um eficaz remédio jurídico.

Quando é cabível a Ação Publiciana?

Para compreender plenamente a Ação Publiciana, é crucial, assim, mergulhar nos requisitos que fundamentam sua aplicação. A clareza desses elementos delineia não apenas a sua eficácia, mas também sua coerência na busca pela justiça possessória.

Consoante a abordagem de Pontes de Miranda, a ação exige, sobretudo, que o autor não disponha de uma via reivindicatória, surgindo como:

alternativa quando não se pode ingressar com uma ação de reivindicação (Miranda, 2019, p. 112).

E, Gonçalves destaca a relevância do requisito temporal como um dos pilares essenciais da Ação Publiciana. Ele salienta que:

a impossibilidade de reivindicar imediatamente deve ser clara, conferindo à ação um caráter supletivo e subsidiário (Gonçalves, 2018, p. 89).

Esta temporalidade estratégica configura-se como uma salvaguarda para os casos em que a reivindicação direta não é viável.

Ainda, é necessário corroborar o requisito temporal através do entendimento do artigo 1.210 do Código Civil estabelece a temporalidade como quesito fundamental, ao determinar que a Ação Publiciana é admissível quando o possuidor não pode reivindicar imediatamente o objeto da posse.

Em outras palavras, este requisito reflete a natureza subsidiária da ação, surgindo como uma alternativa quando a reivindicação direta não é possível.

A boa-fé objetiva, por sua vez, é consagrada nos artigos 1.201 e 1.219 do Código Civil. A conduta ética do possuidor é essencial para legitimar essa ação. Assim, ao agir em conformidade com os princípios da honestidade e retidão, o demandante fortalece sua posição no âmbito judicial.

Ademais, Maria Helena Diniz enfatiza que:

a atuação do autor deve ser pautada na ética, desconhecendo qualquer vício na posse ou origem ilícita do bem (Diniz, 2021, p. 110).

A boa-fé, portanto, não é apenas um requisito formal, mas um princípio ético que permeia toda a aplicação desse processo.

A análise da boa-fé objetiva é dinâmica e está em constante diálogo com as mudanças sociais. As interpretações de Pontes de Miranda ressaltam que:

a noção de boa-fé objetiva evolui com a sociedade, refletindo a honestidade e retidão exigidas na condução das relações possessórias (Miranda, 2019, p. 143).

O papel da jurisprudência na configuração da Ação Publiciana

A jurisprudência desempenha um papel preponderante na conformação da Ação Publiciana. Casos emblemáticos contribuem para delineamentos mais precisos, estabelecendo precedentes e balizas interpretativas.

A análise dessas decisões, portanto, é vital para a compreensão da evolução e aplicação prática dessa ação no contexto jurídico brasileiro.

Ademais, a constante evolução das relações sociais e tecnológicas suscita novas questões, demandando uma adaptação contínua da ação.

A comunidade jurídica, ciente desses desafios, deve permanecer atenta e proativa na busca por soluções que harmonizem os princípios basilares dessa instituição com as demandas contemporâneas.

À propósito, colhe-se do Tribunal de Justiça de Santa Catarina o seguinte julgado:

APELAÇÃO. AÇÃO PUBLICIANA. AUTORA QUE SE CONSIDERA PROPRIETÁRIA DO IMÓVEL EM RAZÃO DO TRANSCURSO DO PRAZO NECESSÁRIO AO RECONHECIMENTO DA USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA (ART. 1.238 DO CÓDIGO CIVIL). PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE. RECURSO DA AUTORA. EXERCICIO DA POSSE, COM ANIMUS DOMINI, DE FORMA MANSA, PACÍFICA E ININTERRUPTA NÃO DEMONSTRADA. PROVA EXCLUSIVAMENTE ORAL QUE NÃO FOI HÁBIL A COMPROVAR, EXTREME DE DÚVIDAS, A NÃO INTERRUPÇÃO DA POSSE DEPOIS DA MUDANÇA DA AUTORA. COMPROVAÇÃO DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA QUE É CONDIÇÃO DE PROCEDÊNCIA DA AÇÃO PUBLICIANA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

Assim, percebe-se que no enfrentamento dos desafios contemporâneos, ela depara-se com nuances específicas.

O advento das relações virtuais e o crescente debate sobre a posse de ativos digitais são temas que ecoam na interpretação dessa ação. Como pondera Tartuce:

a Ação Publiciana deve evoluir para contemplar os novos paradigmas das relações digitais (Tartuce, 2022, p. 115).

A sociedade, cada vez mais conectada e complexa, demanda uma abordagem proativa da doutrina e jurisprudência.

A resolução de litígios envolvendo propriedade intelectual e ativos virtuais a coloca à prova, exigindo uma análise criteriosa de doutrinadores como Nery Júnior, que ressalta que:

a aplicação da Ação Publiciana em ambientes digitais requer uma interpretação alinhada às demandas da sociedade atual (Nery Júnior, 2020, p. 165)

A interconexão dinâmica: posse, propriedade e usucapião na Ação Publiciana

A intrincada relação entre posse, propriedade e usucapião na Ação Publiciana revela-se em um diálogo constante entre o presente, representado pela posse, e o futuro, onde a propriedade é almejada.

Esse entrelaçamento dinâmico se desdobra em camadas mais profundas quando consideramos as nuances específicas de cada um desses conceitos no contexto da ação possessória.

1. Posse: o elemento-chave na Ação Publiciana

A posse, como ponto de partida na Ação Publiciana, não se limita apenas à detenção física de um bem. Ela incorpora a vivência cotidiana, os laços emocionais e as expectativas futuras do possuidor.

A proteção da posse através da Ação Publiciana é, assim, não apenas uma medida legal, mas um resguardo do modo de vida e dos direitos inerentes à ocupação.

O requisito temporal da Ação Publiciana reflete a complexidade dessa relação, pois se alicerça na impossibilidade imediata de reivindicar a posse. É nesse lapso de tempo que a posse se torna vulnerável, instigando a necessidade de proteção judicial.

2. Propriedade: o destino almejado na Ação Publiciana

A propriedade, embora não seja o foco imediato dessa ação, permanece como o horizonte desejado.

A recuperação da posse injustamente perdida é um passo estratégico rumo à potencial reivindicação da propriedade. Esse elo sutil entre posse e propriedade a destaca como uma ferramenta jurídica que transcende a imediatez, projetando-se em direção a um desfecho mais amplo.

3. Usucapião: a contrapartida sutil na Ação Publiciana

A presença da usucapião como contraponto adiciona uma camada de complexidade. Enquanto a Ação Publiciana busca evitar a perda injusta da posse, a usucapião, em seu silêncio prolongado, busca transformar a posse em propriedade.

Essa dualidade ressalta a necessidade de uma atuação estratégica na tutela possessória, considerando não apenas o presente conflito, mas também suas implicações futuras.

A dialética entre o presente e o futuro na Ação Publiciana

Em conclusão, ela transcende a mera proteção da posse no presente. Ela tece uma narrativa jurídica que se desdobra ao longo do tempo, envolvendo a dinâmica entre posse, propriedade e a sombra da usucapião.

Cada elemento nesse complexo entrelaçamento contribui para a riqueza e a profundidade da Ação Publiciana como uma peça central no xadrez jurídico, onde o presente e o futuro se entrelaçam em uma dialética jurídica.

Em um panorama jurídico em constante evolução, a Ação Publiciana revela-se como um instrumento dinâmico. Sua aplicação, guiada pelos princípios da justiça e equidade, coloca-a como uma ferramenta valiosa na preservação dos direitos possessórios.

À luz da doutrina brasileira, sua compreensão aprofundada é essencial para alicerçar uma atuação jurídica sólida e justa.

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Autor
Foto - Eduardo Koetz
Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, escritor, sócio e fundador da Koetz Advocacia e CEO da empresa de software jurídico Advbox.

Possui bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Possui tanto registros na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, OAB/MG 204.531), como na Ordem dos Advogados de Portugal - OA ( OA/Portugal 69.512L).
É pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011- 2012) e em Direito Tributário pela Escola Superior da Magistratura Federal ESMAFE (2013 - 2014).

Atua como um dos principais gestores da Koetz Advocacia realizando a supervisão e liderança em todos os setores do escritório. Em 2021, Eduardo publicou o livro intitulado: Otimizado - O escritório como empresa escalável pela editora Viseu.

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