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Direito

Qual o papel do reconvinte e da reconvenção no Processo Judicial?

Entender o instituto jurídico do reconvinte e da reconvenção é fundamental para compreendermos também o funcionamento do processo civil na jurisdição brasileira.

Tanto o reconvinte quanto a reconvenção referem-se a figuras processuais que permitem aos litigantes, em um mesmo processo, discutirem questões que guardam relação direta com a causa principal, contribuindo para a eficiência e economia processual.

Neste contexto, este artigo tem como objetivo analisar os institutos do reconvinte e da reconvenção, explorando suas características, finalidades, procedimentos e consequências no âmbito do processo civil.

Para tanto, se abordará aspectos doutrinários e jurisprudenciais, bem como se apresentará exemplos práticos e casos concretos que ilustrem a aplicação desses institutos, contribuindo assim para uma compreensão abrangente e aprofundada do tema.

Quem é o reconvinte no Direito Brasileiro?

O reconvinte é a parte que apresenta uma demanda em contraposição àquela inicialmente proposta pelo autor.

Em outras palavras, é aquele que, ao se demandar pelo autor, não se limita a se defender, mas também formula uma pretensão em face do demandante, a fim de resolver todas as questões controvertidas em um único processo.

Assim, o reconvinte desempenha um papel ativo no processo, pois não apenas responde à demanda inicial, mas também busca resolver todas as questões controvertidas em um único processo judicial.

Isso contribui para a eficiência e economia processual, pois evita a necessidade de múltiplos processos sobre questões relacionadas entre as mesmas partes.

Como funciona a reconvenção?

A reconvenção é uma figura jurídica. Assim ela permite ao réu (reconvinte) apresentar uma demanda em face do autor no mesmo processo em que está sendo demandado.

Em outras palavras, além de se defender das alegações trazidas pelo autor, o réu pode formular uma pretensão em desfavor do autor. Contudo, desde que esta esteja relacionada ao objeto da demanda principal ou a questões conexas.

Dessa forma, a reconvenção permite que se resolvam todas as questões pertinentes ao litígio em um único processo, promovendo a economia e a celeridade processual.

Além disso, ao permitir que o réu também formule pretensões contra o autor, a reconvenção contribui para o equilíbrio processual. Isto é, assegurando que ambas as partes tenham a oportunidade de apresentar suas versões dos fatos.

Assim, busca-se a solução de todas as controvérsias em um mesmo procedimento judicial.

A doutrina jurídica brasileira reconhece a reconvenção como um mecanismo valioso para fortalecer o contraditório e a busca pela verdade real. Ao permitir que ambas as partes exponham suas versões dos fatos, a reconvenção promove a justiça material e a equidade processual.

Quando se usa a reconvenção?

Para elucidar seu funcionamento, consideremos exemplos concretos:

  1. Em uma disputa por danos materiais em acidente de trânsito, o réu pode reconvenir o autor alegando danos morais decorrentes do mesmo evento. Buscando, desse modo, equilibrar as demandas e obter uma solução abrangente;
  2. Outra situação comum ocorre em litígios envolvendo contratos. Assim, o réu reconvinte pode pleitear a revisão de cláusulas ou a resolução do contrato por descumprimento de obrigações pela parte autora.

Qual o fundamento legal da reconvenção?

Prevista no artigo 343 do Código de Processo Civil, concebe-se a reconvenção como um mecanismo que busca efetivar o contraditório e garantir a paridade de armas entre as partes, reconvinte e reconvindo.

Essa paridade é essencial para assegurar um processo justo e equilibrado, onde ambas as partes têm oportunidade de expor seus argumentos e pleitear seus direitos.

Vejamos a íntegra do artigo que trata do tema:

Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

§ 1º Proposta a reconvenção, o autor será intimado, na pessoa de seu advogado, para apresentar resposta no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2º A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção.

§ 3º A reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro.

§ 4º A reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro.

§ 5º Se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá afirmar ser titular de direito em face do substituído, e a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual.

§ 6º O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer contestação.

1. Requisitos de admissibilidade

Para que a reconvenção seja admitida, é necessário que esteja diretamente relacionada ao objeto da demanda principal ou a questões conexas. Isso significa que a pretensão formulada pelo réu (reconvinte) deve ter conexão com o processo em curso.

Além disso, a reconvenção deve obedecer aos requisitos formais estabelecidos pela legislação processual, como a forma e o conteúdo da petição inicial da reconvenção.

2. Prazo

O prazo para apresentação da reconvenção é estabelecido pela legislação processual. Geralmente, o réu deve apresentar a reconvenção na própria contestação à demanda inicial ou em peça autônoma específica, observando o prazo estipulado para a apresentação da defesa.

É importante ressaltar que o não cumprimento do prazo estabelecido pode resultar na preclusão do direito de apresentar a reconvenção, ou seja, na perda da oportunidade de fazê-lo durante o processo.

Quais os efeitos da Reconvenção no curso do processo?

A apresentação da reconvenção pode modificar significativamente o curso do processo, uma vez que amplia o objeto da demanda e introduz novas questões a serem discutidas. Isso pode impactar os prazos processuais, pois as partes terão que se manifestar sobre as novas alegações apresentadas.

Além disso, a reconvenção pode influenciar a condução do processo pelo magistrado, que deverá considerar não apenas as alegações do autor original, mas também as do réu reconvinte.

Portanto, é importante que as partes estejam cientes dos efeitos da reconvenção e estejam preparadas para lidar com suas consequências.

1. Julgamento conjunto da reconvenção com a ação principal

Em muitos casos, a reconvenção é julgada conjuntamente com a ação principal, visando uma decisão global sobre o litígio. Isso significa que o juiz analisará tanto as alegações do autor original quanto as do réu reconvinte em uma única sentença. 

Esse procedimento contribui para a economia processual, evitando a necessidade de conduzir dois processos separados para resolver um único litígio.

Além disso, o julgamento conjunto permite uma análise mais completa e integrada das questões discutidas pelas partes, facilitando a compreensão dos fatos e fundamentos jurídicos envolvidos.

2. Possibilidade de contestação da reconvenção pelo autor original

Ao ser reconvenido, o autor original tem o direito de contestar as alegações apresentadas pelo réu reconvinte. Essa contestação pode abordar tanto o mérito das novas demandas quanto questões processuais, como a incompetência do juízo para julgar os novos pedidos. 

É importante ressaltar que a contestação da reconvenção deve observar os mesmos princípios de contraditório e ampla defesa que regem o processo como um todo, garantindo assim a igualdade de armas entre as partes.

3. Recursos da reconvenção e suas implicações processuais

No âmbito dos recursos processuais, as partes têm direito a interpor recursos específicos contra as decisões relacionadas à reconvenção. Isso inclui recursos como apelação ou agravo de instrumento, dependendo do estágio processual em que se encontra o litígio. 

É importante ressaltar que os recursos devem ser fundamentados em questões de direito ou de fato e apresentados dentro dos prazos estabelecidos pela legislação processual.

O manejo adequado dos recursos da reconvenção pode ter um impacto significativo no desfecho do processo e na proteção dos direitos das partes envolvidas.

4. Acompanhamento jurídico especializado

Assim como para o autor original, é fundamental que o reconvinte conte com o acompanhamento de profissionais jurídicos especializados ao propor a reconvenção.

Advogados experientes podem oferecer orientação e assistência jurídica para garantir uma atuação eficaz e estratégica no processo.

Em conclusão, o instituto da reconvenção e a figura do reconvinte desempenham papéis significativos no contexto do processo civil, contribuindo para a eficiência, celeridade e justiça na resolução de litígios.

A possibilidade de apresentar uma demanda em contraposição à inicialmente proposta pelo autor, seja como reconvenção ou através do papel do reconvinte, amplia o leque de oportunidades de defesa e pretensão das partes, garantindo um contraditório efetivo e o devido processo legal.

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Autor
Foto - Eduardo Koetz
Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, escritor, sócio e fundador da Koetz Advocacia e CEO da empresa de software jurídico Advbox.

Possui bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Possui tanto registros na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, OAB/MG 204.531), como na Ordem dos Advogados de Portugal - OA ( OA/Portugal 69.512L).
É pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011- 2012) e em Direito Tributário pela Escola Superior da Magistratura Federal ESMAFE (2013 - 2014).

Atua como um dos principais gestores da Koetz Advocacia realizando a supervisão e liderança em todos os setores do escritório. Em 2021, Eduardo publicou o livro intitulado: Otimizado - O escritório como empresa escalável pela editora Viseu.

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