Método Go Horse na advocacia

O método go horse é muito conhecido por pessoas de negócios e que gerenciam empresas. Apesar de ser uma metodologia, ela é extremamente questionada. Inclusive, grande parte dos administradores e conselheiros de companhias não aconselham a sua utilização.
Embora criado para ser aplicado em uma área totalmente diferente, ele pode também ser utilizado na advocacia. De certo modo, o go horse é usado como exemplo do que não se deve fazer em uma empresa.
O que é a metodologia go horse?
O go horse, também conhecido como extreme go horse ou pelas siglas XGH, significa, em uma tradução literal, “vai cavalo”. Trata-se de uma metodologia inventada por programadores. Ela iniciou como uma brincadeira com as piores práticas de desenvolvimento de software. Contudo, acabou se tornando um método conhecido.
A ideia consiste em trabalhar sem nenhum planejamento, análise ou reflexão sobre o que está sendo desenvolvido. Desse modo, assim que os problemas forem aparecendo, eles devem ser “empurrados”, o que pode ocasionar mais prejuízos.
Ou seja, o go horse é basicamente um método que consiste em começar a realizar um projeto ou trabalho sem pensar antes sobre ele. É uma maneira simples de fazer qualquer coisa, envolvendo mais improviso e ação do que pensamento estratégico.
Como funciona o método go horse?
O go horse possui 22 mandamentos que explicam como essa metodologia funciona. Abaixo, veja todos eles na íntegra para ter noção do que se trata.
1 – Pensou, não é XGH.
O método XGH não pensa, faz a primeira coisa que vem à mente. Não existe segunda opção, a única opção é a mais rápida.
2 – Existem 3 formas de se resolver um problema, a correta, a errada e a XGH, que é igual à errada, só que mais rápida.
XGH é mais rápido que qualquer metodologia de desenvolvimento de software que você conhece (Vide Axioma 14).
3 – Quanto mais XGH você faz, mais precisará fazer.
Para cada problema resolvido usando XGH, mais uns 7 são criados. Mas, todos eles serão resolvidos da forma XGH. XGH tende ao infinito.
4 – XGH é totalmente reativo.
Os erros só existem quando aparecem.
5 – XGH vale tudo, só não vale dar o toba.
Resolveu o problema? Compilou? Commit e era isso.
6 – Commit sempre antes de update.
Se der confusão, a sua parte estará sempre correta.. e seus colegas que levam a culpa.
7 – XGH não tem prazo.
Os prazos passados pelo seu cliente são meros detalhes. Você SEMPRE conseguirá implementar TUDO no tempo necessário (nem que isso implique em acessar o BD por um script malaco).
8 – Esteja preparado para pular fora quando o barco começar a afundar… ou coloque a culpa em alguém ou algo.
Pra quem usa XGH, um dia o barco afunda. Quanto mais o tempo passa, mais o sistema vira um monstro. O dia que a casa cair, é melhor seu curriculum estar cadastrado na APInfo, ou ter algo pra colocar a culpa.
9 – Seja autêntico, XGH não respeita padrões.
Escreva o código como você bem entender, se resolver o problema, commit e era isso.
10 – Não existe refactoring, apenas rework.
Se der confusão, refaça um XGH rápido que solucione o problema. O dia que o rework implicar em reescrever a aplicação toda, pule fora, o barco irá afundar (Vide Axioma 8).
11 – XGH é totalmente anárquico.
A figura de um gerente de projeto é totalmente descartável. Não tem dono, cada um faz o que quiser na hora que os problemas e requisitos vão surgindo (Vide Axioma 4).
12 – Se iluda sempre com promessas de melhorias.
Colocar TODO no código como uma promessa de melhoria ajuda o desenvolvedor XGH a não sentir remorso ou culpa pela cagada que fez. É claro que o refactoring nunca será feito (Vide Axioma 10).
13 – XGH é absoluto, não se prende à coisas relativas.
Prazo e custo são absolutos, qualidade é totalmente relativa. Jamais pense na qualidade e sim no menor tempo que a solução será implementada, aliás… não pense, faça!
14 – XGH é atemporal.
Scrum, XP… tudo isso é modinha. O XGH não se prende às modinhas do momento, isso é frescura. XGH sempre foi e sempre será usado por aqueles que desprezam a qualidade.
15 – XGH nem sempre é POG.
Muitas POG’s exigem um raciocínio muito elevado, XGH não raciocina (Vide Axioma 1).
16 – Não tente remar contra a maré.
Caso seus colegas de trabalho usam XGH para programar e você é um coxinha que gosta de fazer as coisas certinhas, esqueça! Pra cada Design Pattern que você usa corretamente, seus colegas gerarão 10 vezes mais código podre usando XGH.
17 – O XGH não é perigoso até surgir um pouco de ordem.
Este axioma é muito complexo, mas sugere que o projeto utilizando XGH está em meio ao caos. Não tente por ordem no XGH (Vide Axioma 16), é inútil e você pode jogar um tempo precioso no lixo. Isto fará com que o projeto afunde mais rápido ainda (Vide Axioma 8). Não tente gerenciar o XGH, ele é auto suficiente (Vide Axioma 11), assim como o caos.
18 – O XGH é seu brother, mas é vingativo.
Enquanto você quiser, o XGH sempre estará do seu lado. Mas cuidado, não o abandone. Se começar um sistema utilizando XGH e abandoná-lo para utilizar uma metodologia da moda, você estará fudido. O XGH não permite refactoring (vide axioma 10), e seu novo sistema cheio de funcionalidades entrará em colapso. E nessa hora, somente o XGH poderá salvá-lo.
19 – Se tiver funcionando, não rela a mão.
Nunca altere, e muito menos questione um código funcionando. Isso é perda de tempo, mesmo porque refactoring não existe (Vide Axioma 10). Tempo é a engrenagem que move o XGH e qualidade é um detalhe desprezível.
20 – Teste é para os fracos.
Se você meteu a mão num sistema XGH, é melhor saber o que está fazendo. E se você sabe o que está fazendo, vai testar pra que? Testes são desperdício de tempo, se o código compilar, é o suficiente.
21 – Acostume-se ao sentimento de fracasso iminente.
O fracasso e o sucesso andam sempre de mãos dadas, e no XGH não é diferente. As pessoas costumam achar que as chances do projeto fracassar utilizando XGH são sempre maiores do que ele ser bem sucedido. Mas sucesso e fracasso são uma questão de ponto de vista. O projeto foi por água abaixo mas você aprendeu algo? Então pra você foi um sucesso!
22 – O problema só é seu quando seu nome está no Doc da classe.
Nunca ponha a mão numa classe cujo autor não é você. Caso um membro da equipe morra ou fique doente por muito tempo, o barco irá afundar! Nesse caso, utilize o Axioma 8.
Conforme a leitura dos 22 mandamentos, é possível perceber que se trata de uma maneira bastante estranha para trabalhar e realizar qualquer projeto.
Na prática, quando uma pessoa atua dessa forma, ela não planeja algo efetivo, não prevê problemas e faz tudo sem análise. Desse modo, podem ocorrer equívocos, demora na finalização e entrega, retrabalho e, principalmente, grandes possibilidades de fracasso.
Por que o go horse é ruim?
O go horse é considerado ruim por diversos motivos. Imagine fazer tudo em uma empresa sem pensar e analisar antes? Seria caótico, não acha? Tudo exige planejamento e estudo para poder ser iniciado. Caso contrário, as chances da organização ir à falência é grande.
Veja abaixo alguns motivos que tornam o go horse muito ruim.
1. Não respeita prazos
Conforme visto, o go horse não possui planejamento. Logo, as consequências disso são justamente ter dificuldades no cumprimento de prazos. Adaptando a ideia para um escritório de advocacia, que trabalha a todo instante com prazos processuais e compromissos, é claro o problema que isso pode causar.
2. Prejudica o relacionamento entre os colaboradores
O go horse, além de implementar a ideia de que tudo deve ser feito sem pensar, diz que, em caso de erros, o ideal é culpar algum colaborador. Isso é injusto, visto que apontar culpados não resolve o problema. Além de atrasar todo o trabalho e causar conflitos, gera insatisfação e desconfiança entre os membros da equipe, tornando o ambiente negativo.
3. Torna o trabalho improdutivo
Fazer qualquer serviço, por menor que ele possa ser, sem analisar e pensar antes na solução, torna o processo mais lento e o trabalho mais improdutivo. Ademais, realizar qualquer coisa sem pensar ocasiona retrabalho e acumulação de erros que devem ser corrigidos.
A produtividade é fundamental para qualquer empresa que deseja lucrar e ter uma boa performance. Sendo assim, o go horse deve ser considerado o inimigo de quem almeja bons resultados.
4. Prejudica o relacionamento com o cliente
O go horse também prejudica o relacionamento com o cliente. Em empresas que prestam serviços, como os escritórios de advocacia, os atendidos poderão perceber o improviso dos colaboradores, o que poderá ser interpretado como despreparo.
Além disso, eles irão sentir que o trabalho é mais lento e feito sem qualquer análise, fazendo com que o cliente procure outro escritório e não indique o seu para conhecidos.
5. Prejudica a reputação da empresa
Aplicar o método go horse em qualquer escritório pode prejudicar a reputação do negócio e de toda a equipe.
Isso significa que, além de gerar insatisfação nos clientes, seus colaboradores podem ser vistos como maus profissionais, podendo ter dificuldades de se recolocarem em outras bancas caso precisem.
Como o go horse é adaptado para a advocacia?
Você deve pensar “mas nenhuma empresa utiliza o extreme go horse”. Por incrível que pareça, muitas pessoas acabam adotando as práticas do XGH, mesmo que as não conheça diretamente.
É fato que existem escritórios que realizam diversos trabalhos no improviso, apenas agindo e não pensando. Não é incomum ver negócios que não estruturam seus processos, deixando os seus colaboradores agirem da maneira que desejarem.
Infelizmente, é possível encontrar bancas que não estruturam e realizam o controle de processos, não idealizam um planejamento adequado da empresa e não utilizam programas para analisar dados antes de tomarem decisões ou implementarem melhorias. Além disso, a falta de controle dos prazos também é um fator comum neste tipo de escritório.
Questione-se por alguns minutos: o seu escritório possui processos e diretrizes para realizar as tarefas ou deixa que todos realizem da forma como bem entender, principalmente sem análise e planejamento? Se sim, está na hora de mudar isso.
O go horse é um excelente exemplo do que não se deve fazer em um escritório, principalmente pelo fato de lidar diretamente com o direito das pessoas.
Imagine iniciar uma ação sem estudar o direito material, analisar o caso e verificar as provas que possui. Além de despender mais tempo que o necessário, as possibilidades de retrabalho serão enormes. Ademais, você pode lotar o poder judiciário com ações desnecessárias e prejudicar seu cliente.
Sendo assim, não seja um advogado que utiliza o método go horse, nem tenha um escritório de advocacia com uma equipe que age dessa maneira.
Método extreme go horse
O extreme go horse é um método que pode ensinar muitas empresas dos mais variados setores a entender o que não deve ser feito. Isso porque, mesmo quem queira utilizá-lo, precisará realizar análises, mesmo que seja de forma macro e rápida.
Logo, ele não é aconselhável. Portanto, evite adotar qualquer um dos mandamentos, pois os prejuízos podem ser grandes.
Se você gostou desse artigo, aproveite e entenda como alguns processos podem trazer prejuízos para o escritório!
